terça-feira, 15 de setembro de 2015

Terras do nosso Algarve - Sta. Catarina da Fonte do Bispo

Estamos em pleno Barrocal, um Algarve de transição que une o mar e a serra, onde cresce espontaneamente a palmeira anã que, durante milénios, foi de tanta utilidade para produzir desde a humilde vassoura às práticas alcofas. Agora são as serranias que esperam o viajante. São mais belas e genuínas quando percorridas em libertadores passeios a pé ou usando as estradas secundárias que unem povoados de uma dezena de casas com nomes tão sugestivos como Bem Parece, Alcaria do Cume ou Morenos. Santa Catarina é uma aldeia típica do Barrocal algavio, orgulhosa da sua igreja de paredes caiadas e do saber centenário de trabalhar o barro.



Rodeada por pomares onde vicejam amendoeiras e laranjeiras, é uma típica povoação da zona rural intermédia do Algarve - o Barrocal - de solos calcários.


Localização

Santa Catarina da Fonte do Bispo confina a Oeste com São Brás de Alportel, a Norte com Cachopo, a leste com Tavira e a sul com Olhão. O acesso faz-se pela EN 270 que de Loulé, vai para São Brás de Alportel e Tavira.


Actividades Principais

Esta zona é a mais importante do sul de Portugal no que respeita à produção de telhas, ladri-lhos e tijolos. A origem das oficinas de cerâmica na freguesia perde-se no tempo. Actualmente, há unidades na aldeia, nos sítios de Fonte do Bispo, Julião, Espartosa, Marco e Montes e Lagares Bengado. Nas oficinas, os artesãos, agora organizados na Associação de Telheiros Artesanais, asseguram a continuidade desta indústria multissecular, que produz os elementos construtivos que constituem a imagem de marca da arquitectura algarvia (mediterrânica): a telha mourisca, os ladrilhos de tijoleira, os azulejos e o tijolo burro. Não deixe de visitar uma destas oficinas (com marcação prévia), para observar ao vivo as tecnologias tradicionais utilizadas. 


História 

A origem da freguesia está ligada à edificação da Igreja Matriz em meados do século XVI. Será também por essa razão que o nome da freguesia está relacionado com o domínio religioso. Embora o topônimo “Fonte do Bispo” possua variadas versões, sabe-se que está relacionado com a presença de um Bispo nestas terras, o qual mandou construir uma fonte, que segundo o Dicionário Geográfico do Padre Cardoso, não possuía uma água com as qualidades especias, como pensavam, na altura, os residentes da freguesia. 

Por sua vez o nome de “Stª Catarina”, dizem ter sido colocado em homenagem a Santa Catarina Martys, que veio a tornar-se padroeira da vila. 

Segundo Silva Lopes, na década de 1830, “alfarrobeiras e oliveiras são as árvores que formam as principais produções. Tem algumas hortas regadas com água de poço, que produzem mui saborosos frutos e alguma laranja, excelentes vinhas de que se faz bom vinho e muitas azinheiras que se vão reduzindo a carvão, aproveitando o terreno em sementeira de cereais e legumes. Muitos almocreves aqui estabelecidos andam no caminho de Lisboa conduzindo miolo de amêndoa, azeite e caça, principalmente perdizes (...). As mulheres fabricam panos grosseiros de linho e estopa para seu uso e para vender. Aqui se junta muita cera (...). Tem três lagares de azeite”. 


Património Cultural 

A Igreja Matriz data de meados do século XVI. É um bonito templo em estilo renascentista, com um portal decorado. O interior tem três naves, com colunas de capitéis jónicos. A capela-mor tem abóbada artesiana e, na parte lateral, uma porta manuelina. Entre a imaginária, destaca-se a Nossa Sr.ª das Dores do séc. XVI. Tábua representando a Adoração dos Pastores.



Património Natural

Muitas das encostas nas cercanias de Santa Catarina são bastante íngremes e tornam impossível o seu cultivo. Nestas a cobertura vegetal é constituída sobretudo por carrasqueiros e lentiscos, com uma pincelada de cor dada, no inicio de cada ano, pela esteva, o sargaço e a roselha grande. Na Primavera poder-se-ão encontrar a campainha-do-monte, o lírio, o lírio-roxo, o Gladiolus bysantinus, o jacinto, a Tulipa australis, a Scilla peruviana, de grandes flores, a Scilla monophilos e a campainha que encontaram os nutrientes necessários entre as rochas.

Durante o dia podem ver-se mochos-galegos nos fios de telefone ou empoleirados nas árvores. Este pequeno mocho caça principalmente de madrugada e após o pôr-do-sol. 

Já foi encontrada perto de Santa Catarina a maior mariposa da Europa, a Saturnia pyri, cuja envergadura pode atingir os 7 cm. 


Tradições 

Sobre a padroeira da freguesia, conta-se uma lenda, na qual a imagem de Sta. Catarina terá aparecido numa rocha da Fonte do Bispo, sendo depois transportada de volta para o interior da capela na aldeia, tornando, mais tarde a aparecer novamente na rocha. O facto originou uma disputa entre os locais, havendo quem defendesse que a imagem não deveria regressar à capela. Como consequência dessa disputa a Santa terá dito que todas as crianças nascidas nesta zona, de nome Catarina, não sobreviveriam. 

Mais tarde a população celebrou um acordo, no sentido da imagem ficar na capela da aldeia, tornando-se assim, a padroeira de toda a freguesia.


Produtos Locais

As actividades tradicionais ainda estão bem presentes na vida local, sendo possível a visita de grupos com marcação prévia à Cooperativa Agrícola de Santa Catarina, para observar o lagar de azeite ou a destilação do medronho. Além da importância do fabrico das aguardentes de medronho, bagaço, figo, alfarroba e dos licores de tangerina e folha de figueira, pode encontrar mais destilarias, nos sítios de Várzea do Vinagre, Bem Parece, Porto Carvalhoso, Alcaria do Cume e Morenos), mantém-se a produção de azeite e a confecção de doces regionais e figos cheios na aldeia e de mel na Várzea do Vinagre, Bemparece e Corte Vidreiros

De entre as actividades artesanais com matérias-primas locais, destaca-se a cestaria de cana na aldeia do Marco. Há também artesãos de couro e peles em Eiras Altas e Cerro de Leiria, trabalhos de empreita com palma e malhas de lã e algodão nas Hortas.


Sem comentários:

Enviar um comentário