terça-feira, 5 de março de 2013

Terras do nosso Algarve - Paderne

Vale a pena conhecer in loco as ruínas da antiga fortaleza árabe, uma jóia da construção militar muçulmana erguida no topo de um promontório calcário de impressionantes e abruptas encostas. Conquistado em 1248 ao célebre Califa Almôada Al-Mansor, pelos cavaleiros monges da ordem de Santiago, este castelo de taipa foi em tempos medievais, sentinela e guardião do caminho entre o litoral e o interior do Algarve.


Paderne é das três freguesias de Albufeira a que mantém mais acesa a chama da tradição. São disso exemplo a sobrevivência do seu artesanato e as festas populares.A bonita povoação de Paderne estende-se pela encosta de um cerro denominado de Paderna, do qual recebeu o nome.

A 12 Km de Albufeira com uma área de 57Km2, a freguesia localiza-se no Barrocal Algarvio.
Próximo de Paderne passam duas ribeiras, a d’Alte e a de Algibre, as quais juntam as suas águas perto da povoação, indo banhar o sopé do Castelo e desaguar à Praia de Quarteira. No seu percurso formam bonitas margens que convidam a passeios bastante agradáveis.

Os habitantes dedicam-se na sua grande maioria à agricultura e ao pequeno comércio.


A referência mais antiga sobre Paderne data de 1189, altura em que D. Sancho I a conquistou, auxiliado por uma esquadra de cruzados ingleses.

O poder Cristão exerceu-se durante pouco tempo, já que em 1191 o célebre califa almóada Al-Mansur voltou a reconquistá-la, e só em 1248 Dão Paio Peres Correia, mestre da Ordem Militar de Santiago de Espada conquistou definitivamente o Castelo e deu inicio ao repovoamento cristão.

Fora dos recintos amuralhados não havia quaisquer construções, o que faz supor que a actual povoação de Paderne seja posterior à tomada do seu Castelo aos mouros.
Em 1305 D. Dinis doou o Castelo, a Vila e o padroado da Igreja à Ordem Militar de Aviz pelos seus feitos a favor da reconquista.


Património Cultural

Castelo de Paderne - este é um dos castelos que figuram na Bandeira de Portugal e foi conquistado aos mouros por D. Paio Peres Correia em 1248 e desactivado em 1858.
Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1971, o Castelo está a ser objecto de estudo por parte do IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico, com vista à sua valorização e classificação das áreas envolventes à Ribeira de Quarteira como Área de Paisagem Protegida. Este estudo contempla a identificação de vários núcleos de interesse arqueológico e etnográfico, bem como a caracterização da fauna e flora existentes.



Apesar dos sucessivos restauros, o seu estado de conservação encontra-se degradado e nos nossos dias apresenta apenas alguns panos de muralha, bem como o torreão de entrada e paredes-mestras da sua Ermida.
Nos princípios do séc. XVI, com a transferência da povoação do interior das muralhas para Norte, torna-se claro o seu estado de semi-abandono e mais tarde com o terramoto de 1755 sofre o desmoronamento parcial das muralhas e da torre albarrã.

A Igreja Matriz de Paderne é um belíssimo templo de 3 naves e a sua construção data de 1506, com acréscimos posteriores.
Aquando da transferência da povoação de Paderne do interior das muralhas 2 km para Norte, construiu-se então uma nova Igreja que viria a ser a Igreja Matriz de Paderne. O templo que se iniciou então tinha três naves, quatro tramos e cabeceira composta pela ousia e duas capelas colaterais, estando em 1554 quase concluída, faltando somente a cobertura do corpo da Igreja. 


Igreja Matriz - Paderne

Da sua arquitectura destaca-se a conjugação tardia do formulário renascentista com elementos manuelinos, nomeadamente nas cantarias dos capitéis, no arco triunfal e na cobertura de uma das capelas da cabeceira. Nos séculos XVII e XVIII procedeu-se à abertura de algumas capelas laterais no corpo da Igreja, destinadas às confrarias que aqui se sediaram e nos finais do séc. XIX foi acrescentado um tramo ao corpo da Igreja, construindo-se uma nova fachada principal (1880) e mais tarde, em 1905 procedeu-se ao aumento da torre sineira e à sua dotação com um relógio.
No seu interior é possível admirar os vários retábulos, um cálice que tem como curiosidade o facto de possuir um nó esférico achatado, o que o transforma num interessante testemunho do período renascentista.
De entre o espólio escultórico, composto por uma dúzia de exemplares de madeira dos séculos XVII e XVIII, salienta-se a imagem do Arcanjo S. Miguel, da época barroca.

Ermida da Nossa Sr.ª do Pé da Cruz - Esta Ermida terá sido edificada no século XVII, tendo sofrido obras de restauro em 1711. No seu interior é possível admirar o seu retábulo do princípio do século XVIII (cerca de 1715), tratando-se dum testemunho do período barroco.

Ermida da Nossa Sr.ª da Assunção - Antiga Paróquia de Paderne, a Ermida da Nossa Sr.ª da Assunção vulgarmente chamada Ermida da Senhora do Castelo, situa-se dentro do perímetro da antiga fortificação de Paderne, mas o isolamento e a ruína deste, levaram ao seu progressivo abandono, e apesar dos sucessivos restauros, foi definitivamente desactivada em 1858.
Tratava-se de uma pequena edificação de abóbada na capela-mor e de corpo fechado em madeira. Apresentando três altares, tendo no altar-mor a Sagrada Imagem da Nossa Senhora.
Actualmente apenas apresenta as paredes mestras, tendo-se perdido a maior parte de seu espólio.

Ponte do Castelo - Trata-se de uma ponte de feição romana, situada no vale a sudoeste do Castelo sobre a Ribeira de Quarteira, reedificada em 1771 e onde são visíveis três arcos e dois talha-mars com a forma de prisma triangular.



Azenha - Trata-se de um sistema tradicional de moagem, que tem por força motriz o impulso da água.
Desconhece-se a data de construção desta Azenha, sabendo-se, no entanto, que estes enge-nhos são mais antigos que os moinhos de vento e constituem uma herança do período árabe.
Na Carta de Foral concedida por D. Manuel, em 1504, já se encontram referências a estes sistemas de moagem, o que pressupõe a sua antiguidade e o importante papel que desempenharam num fundo tecnológico tradicional das comunidades que aqui viviam.

Fonte - Localizada na estrada entre Paderne e o seu Castelo a sua existência remonta ao séc. XVIII e dada a sua importância, encontrava-se firmemente protegida pela legislação municipal da época.
Integrada na zona de intervenção da Ribeira de Quarteira, possui um projecto que contempla a conservação da fonte e arranjo paisagístico dos espaços envolventes.




Património Natural
As orquídeas selvagens são um tesouro frágil, precioso e pouco conhecido. A sua existência pressupõe um delicado equilíbrio ecológico.
Poderá encontrar várias espécies no acesso ao castelo de Paderne, que se inicia junto a um açude de moinho.
Aí, basta um olhar mais atento e será fácil encontrar a “flor do enforcado”, uma das espécies algarvias mais bonitas. Em cachos brancos ou rosados, eles surgem muitas vezes sob a sombra protectora das alfarrobeiras e outras árvores.
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Tradições
As Mouras de Paderne
“Numa manhã da mais poética Primavera, tomavam as belas mouras o seu banho na ribeira que corre no sopé do monte do castelo, quando as crianças que brincavam próximo das margens vieram a correr dizendo:

- Veja minha mãe. Que bonito é…!
- O quê, filho?
- Os matos a correr para o castelo.

Saiu a mãe do banho e correu a verificar o facto. Então teve a compreensão nítida do que se passava. Os cristãos serviram-se de uma estratégia para se aproximar do castelo: tinham arrancado uma porção de mato e encobertos com este, tentavam entrar no forte do castelo.
A moura deu de imediato voz de alarme às suas companheiras, que correram para a boca do subterrâneo que da ribeira comunicava com o castelo, onde se esconderam. Da mesma forma, os mouros que trabalhavam nos campos também correram ao castelo e juntaram-se aos seus camaradas que já lutavam contra os cristãos. O combate foi duro e mortífero e após algum tempo, os sarracenos foram expulsos e os cristãos tomaram o castelo.”
Afirma a lenda que no subterrâneo ficaram encantados mouros e mouras, que ali defendem os seus tesouros, até que a sua raça se resolva a vir desencantá-los. Só saem dali à meia noite ou ao meio dia.

Produtos Locais
Pode encontrar na vila trabalhos de palma e tapetes de esparto, capachos de milho com decorações, produzidos por artesãos locais, bem como peças em cobre e latão, cestos, rendas e calçado típico.

Gastronomia
Dos agricultores das terras do interior vem o jantar de milhos acompanhado por carne de porco e enchidos, o jantar de chícharos (tipo de grão, mas a erva é usada para forragem), a cabidela de galinha e a pá de cordeiro assada, a que não faltam as amêndoas, o mel e o alecrim para um sabor inesquecível. Nos doces há que optar entre as batatas de amêndoa, o nógado de amêndoa, o Morgado, o bolo de amêndoa ou o característico e muito doce queijo de figo.


1 comentário:

  1. alguém fez algo de jeito. e não mete futebol, mas sim cultura. Parabéns
    Francisco

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