terça-feira, 2 de agosto de 2011

Algarvios ilustres - Tomaz Cabreira

Tomaz António da Guarda Cabreira nasceu às duas horas do dia 23 de Janeiro de 1865, na casa da antiga Rua da Misericórdia, actualmente denominada Rua da Galeria, na freguesia de Santa Maria, em Tavira.

Casou, a 6 de Janeiro de 1864 com D. Francisca Emília Pereira da Silva, natural de Ponta Delgada. Veio a falecer em Tavira a 10 de Novembro de 1886, onde gozava de grande prestígio e profunda estima entre todas as classes sociais desta cidade. Desta união nasceram dois filhos, António Tomaz da Guarda Cabreira de Faria e Alvelos Drago da Ponte e Tomaz António da Guarda Cabreira.


Algarvio apaixonado, veio a morrer na sua terra, Tavira, a 4 de Dezembro de 1918, vítima de doença e apenas com 53 anos de idade. Após a morte, foram-lhe reconhecidos valor e mérito, sendo então homenageado, não só pelo seu carácter e inteligência, mas também pelos serviços prestados ao seu país.


Carreira Académica 
A sua personalidade multifacetada revela-se sobretudo nas diversas actividades e cargos que desempenhou ao longo da sua vida. Extensa é a lista dos atributos que referenciam os aspectos mais marcantes da sua vida e melhor o definem como eminente homem da ciência, parlamentar e notável professor catedrático, além de autor de importante obra publicada e distinto oficial do exército.

Já feito o exame de instrução primária, em 1877, entrou para a Escola Nacional, então instalada no antigo Palácio de Pombal, à Rua Formosa, transitando a seguir para o Liceu, onde conclui os preparatórios em quatro anos.

Assentou praça no Regimento de Infantaria a 14 de Setembro de 1881, matriculando-se em 25 de Outubro na Escola do Exército.

Foi promovido a Alferes graduado, em 22 de Julho de 1885; a Alferes, em 15 de Julho de 1887; a Tenente, em 30 de Dezembro de 1893; a Capitão, em 1 de Agosto de 1903; a Major, em 24 de Agosto de 1912; a Tenente Coronel, em 12 de Fevereiro de 1916 e a Coronel, em 27 de Abril de 1918.

Quando faleceu, estava, aproximadamente, a um quinto da escala para General, posto que atingiria provavelmente em 1921.

Em 1883, matriculou-se no 1º Ano da Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, não podendo prosseguir devido a ter optado por dar continuidade à sua Carreira Militar.

No entanto, em 26 de Outubro de 1886, entrou para a Escola Politécnica e fez o respectivo Curso Geral, com excepção da disciplina de Geometria Descritiva, datando de 9 de Outubro de 1891 o seu último exame.

Alcançou o 1º prémio pecuniário e louvor, respectivamente, nas cadeiras de Química Mineral e de Economia Política.

Em 2 de Novembro de 1891, voltou à Escola do Exército, onde, em 28 de Outubro de 1893 se habilitou com a carta de Engenheiro Civil. Depois de ter prestado brilhantes provas públicas, foi nomeado lente substituto provisório das cadeiras de Química Mineral e de Química Orgânica, na Escola Politécnica, actual faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Em Julho de 1896, o Instituto de Coimbra concedeu-lhe o título de Sócio correspondente.

Em 26 de Maio de 1898, é nomeado, definitivamente, lente da Escola Politécnica. Em 26 de Junho de 1903, recebe a nomeação de Vogal da Comissão de Explosivos. Em 11 de Abril de 1907, é declarado Vogal fundador da Academia de Ciências de Portugal, na qual desempenhou o cargo de Segundo Secretário, desde 1907 até à data do seu falecimento.

Em 1 de Agosto de 1916, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa conferiu-lhe o grau de Doutor, nos termos da lei de 19 de Junho do mesmo ano.

De acordo com o novo estatuto Universitário, de 9 de Julho de 1918, foi promovido a professor ordinário na mesma faculdade.

Em 1907 fundou a Universidade Popular de Lisboa, destinada a ministrar, por via de prelecções ilustradas com projecções luminosas, diversos assuntos de manifesta utilidade pública.

Todo este saber foi, sem dúvida, enriquecido pelas muitas viagens que fez a Espanha, França, Itália, Suíça, Bélgica, Holanda, Áustria e Hungria, o que comprova o facto de dominar perfeitamente as línguas espanhola, francesa, italiana, inglesa e alemã.

As suas aptidões revelam-se também nos estudos que fez, quer no campo da Química quer no domínio da Economia Política.

É, no entanto, por vocação e especialmente por uma imensa dedicação, que segue o magistério.

Talvez por isso seja considerado, no seu tempo, como professor exemplar, pelas 18 gerações de alunos que leccionou.


Pensamento e Carreira Política
Tomaz Cabreira foi, sem dúvida alguma, um dos maiores estadistas que até hoje apareceu dentro da República; prova-o o conjunto de aptidões que nenhum outro reuniu ainda e prova-o documentalmente, a sua obra, absolutamente sã e isenta de mistificação e artifícios, sendo um verdadeiro padrão de patriotismo, de talento e de saber.

Muito cedo se afirma como um convicto republicano de ideias avançadas, que discursava em comícios e realizava conferências e as convicções políticas levaram-no muito cedo à condenação dos erros da monarquia.

Em 1887 é tido por republicano da extrema esquerda. Acredita que uma república bem avançada, roçando o socialismo, com todos os poderes no Parlamento e em que a liberdade quase absorvesse a autoridade, transformaria Portugal num país eleito.

Em 1894 foi proposto para Deputado Republicano ao parlamento pelo Círculo de Faro, tendo obtido uma votação relativamente importante, dada a má vontade que havia contra a apregoada Causa Republicana. A sua eleição é, sem dúvida, consequência da sua intervenção nas comissões políticas no Algarve. No entanto, a sua entrada no Parlamento valeu-lhe um destacamento para Trás-os-Montes por parte da hierarquia militar.

Como deputado, estudou e produziu uma extensa e profunda obra que apresentou às Câmaras Legislativas e participou activamente nos projectos e proposta de lei que, a seu ver, interessavam à vida económica e financeira do país. O facto de entender que o advento da República devia ser precedido de uma atmosfera de ideias construtivas, leva-o a fundar o Grupo Republicano de Estudos Sociais.

Em 1 de Novembro de 1908, foi eleito Vereador da Câmara Municipal de Lisboa. Por ter exercido esse simples direito cívico, foi perseguido em termos militares, mas sentiu uma calorosa simpatia e solidariedade do povo republicano.

Em 17 de Julho de 1911, recebeu o diploma de Deputado à Assembleia Nacional Constituinte.

Em 23 de Agosto de 1912, é eleito Senador da República.

Em 8 de Setembro de 1913, é nomeado vogal da comissão incumbida de proceder ao estudo do local apropriado para o porto franco de Lisboa e, nos termos da lei respectiva, elaborar os projectos de obras necessárias.

Em 9 de Fevereiro de 1914, é nomeado Ministro das Finanças, cargo que exerceu até 22 de Junho e donde foi afastado, a seu ver, por ser incómodo a alguns correligionários seus. Isto leva-o a demitir-se do Partido Democrático.

Quando da Revolução de 14 de Maio, Tomaz Cabreira foi chamado para Ministro do Governo de José de Castro, tarefa que não chegou a exercer.

Embora filiado no partido democrático desde a sua adolescência, fazia questão de afirmar que, enquanto Ministro, não o era de qualquer partido mas da República.

Sendo um homem independente, justo e modesto, não se aproveitou da política nem lhe solicitou favores e o facto de conviver com príncipes, aristocratas, banqueiros e militares nunca o impediu de formar as suas ideias republicanas e de defender os mais desprotegidos.

Se a sua actividade como político lhe granjeou algumas inimizades, também lhe gerou calorosas e inegáveis demonstrações públicas de afecto, reconhecimento e admiração.

Depois de abandonar o partido e a política em 1914, continuou a lutar contra a inércia, a ignorância e a estupidez, criando a União da Agricultura, Comércio e Indústria, da qual foi eleito Vice-Presidente, assumindo a Presidência nos últimos anos.

A partir deste período da sua vida, desencantado e desiludido, o seu pensamento político vai evoluir no sentido conservador e atingir a extrema direita da Democracia.

Tomaz Cabreira iniciou-se na Maçonaria muito novo, não por espírito sectário ou anti-religioso, mas por preocupações políticas, pois o carácter secreto das "lojas" prestava-se à discussão das ideias republicanas e à execução de trabalhos de maior responsabilidade.

Acreditava profundamente em Deus e considerava como dever supremo servir a Pátria e a isso dedicou a sua vida com correcção, coerência e equilíbrio e, segundo ele, sob a égide de Deus.

Espírito cristão, o seu culto pela Justiça e pelo sentido de Honra levam-no a defender algumas das regalias da Igreja assim como algumas Ordens Nobiliárquicas.


Obra Publicada 
Tomaz Cabreira iniciou-se como jornalista, escrevendo crónicas políticas que, mais tarde, dão lugar a artigos literários e científicos, tendo ocupado lugar de destaque na Associação dos Jornalistas de Lisboa e na Associação da Imprensa Portuguesa. Defensor acérrimo das garantias conquistadas pelo esforço progressivo dos povos, destaca entre elas a liberdade de Imprensa, sendo sua convicção que os eventuais abusos serão sempre denunciados pela opinião pública como uma ofensa à verdade e à justiça.

Da análise das obras que Tomaz Cabreira nos legou, há que realçar a extensa variedade de temas que abordou, embora os de caracter económico e financeiro sejam sem dúvida os principais. Assim, escreveu sobre o ensino, comércio, problemas tributários, história, química e, curiosamente, dedicou também uma parte da sua obra à pintura.

O primeiro livro publicado data de 1896 "Princípios de Estereoquímica" e o último, com publicação póstuma, "A Composição da Linguagem de alguns Povos Pré- Históricos".

Pela sua importância, iremos abordar, noutro capítulo deste trabalho e com mais pormenor, "O Algarve Económico", onde Cabreira mostra a sua faceta de algarvio convicto, defensor intransigente da regionalização, provando nessa obra, que o Algarve tinha todas as potencialidades para ser a província mais rica de Portugal. Por este motivo, chegou ao ponto de defender uma completa autonomia administrativa.

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