domingo, 13 de maio de 2012

Terras do nosso Algarve - Sagres

No sítio mais ocidental da Europa, mundialmente conhecido desde os finais da Idade Média, D. Henrique, o Infante Navegador, mandou construir “a Vila do Infante” com sua fortaleza. Todavia, nesta zona, a presença humana remonta à pré-história, e desde épocas milenares, é conhecido como o fim do mundo, um lugar mágico que marcou o imaginário de muitos povos. A “Vila” surgiu, no entanto, para dar apoio aos barcos que se resguardavam nas enseadas aguardando ventos favoráveis.


Localização
Chega-se a Sagres pela EN 125, caso se venha de Lagos. Para quem vem de Aljezur, é mais fácil tomar a EN 268. Estamos a Oeste ou Barlavento Algarvio, no concelho de Vila do Bispo.

População
Aqui vivem cerca de 2000 pessoas, que mais do que tudo são pescadores e mariscadores, compondo-se a dieta com alguma agricultura e pastorícia.

Actividades Principais
À pesca artesanal de sargos, douradas, robalos e outras espécies de alto valor comercial alia-se a mariscagem, como a apanha do perceve.
Aos solos pobres aliam-se as agrestes condições climatéricas pelo que a agricultura é de subsistência e aliada à pastorícia de caprinos e ovinos.
O Turismo surge nos últimos anos como um factor de atracção, mobilizando a permanência de faixas etárias que até aos anos 60 emigravam.

História
Sagres é uma referência incontornável na época de desenvolvimento das rotas marítimas, que ligaram a Europa à América (sécs. XIII e XVI).
Porém, desde há muitos séculos, o culto Vicentino suscita peregrinações ao Cabo de S. Vicente, que assim ficou a chamar-se por lá ter repousado o corpo desse franciscano. Reza a tradição que foi para aí trasladado pelos moçárabes (muçulmanos convertidos ao cristianismo) para o preservar durante a ocupação moura do Al Garb.


Património Cultural
O Forte da Baleeira foi construído para proteger a armação de atum ali existente, alvo de ataques constantes. Ignora-se a data exacta da sua cons-trução, mas em 1573, já funcionava, pois foi uma das fortificações atacadas e destruídas pelo corsário inglês Drake, na sua investida na região em 1587.
A porta em arco de volta inteira, sem os remates da parte superior, e alguns alicerces dos muros, é o que actualmente resta da edificação que possuiu ermida e aposentos para a guarnição.

A Igreja de Nossa Senhora da Graça foi construída sobre as fundações da primitiva Igreja de S.ta Maria, fundada pelo Infante D. Henrique. Data do séc. XV / XVI, com portal da renascença e no altar, existe uma imagem de S. Vicente segurando uma nau do séc. XVII.

O Forte de Santo António do Beliche terá sido construído no séc. XVI, sendo alvo de obras de construção no séc. XVII. A sua porta é em arco redondo e após o portal uma escadaria que desce pela rocha, até ao mar. O acesso ao reduto defensivo, tem ainda uma outra porta, também de arco redondo. No interior do forte existem serviços de alojamento e o restaurante com o selo de recomendação do “Algarve Rural”.


A Capela de Santa Catarina, devido ao perigo de derrocada, encontra-se encerrada. Integrada no Complexo do Cabo de S. Vicente, constituído pela Capela, o Convento, a Fortaleza e o Farol, o local constitui o extremo sudoeste de Portugal e da Europa. Tem uma altura de 60 metros e um comprimento de 100 metros que continua numa pequena península, com cerca de 1,5 km de largura, ligada ao continente por um istmo de 60 metros de largura.

Nesta península e sobre a praia do Beliche levantam-se algumas paredes arruinadas, restos de uma fortaleza construída em 1632. Mesmo à beira da escarpa ficam as ruínas de uma capela que foi dedicada a Santa Catarina e, do lado oposto, outras ruínas dum antiquíssimo convento Franciscano que se supõe ter sido a antiga Igreja do Corvo dedicado ao mártir S. Vicente, ainda antes da constituição de Portugal como nação.

O Farol inicial, foi D. Maria II quem mandou construir em 1846.
Em 1894, rei D. Carlos, manda erguer uma torre de 20 metros de altura, onde assenta a lanterna e a casa dos faroleiros. O farol actual foi construído em 1904 no sítio onde anteriormente estava localizada a Capela principal de um antigo Convento.


Existem em Sagres sinais de ocupação desde a pré-história, destacando-se na Praia do Marti-nhal vestígios de um centro oleiro romano e de fornos para a produção de ânforas. Nos Ilhéus do Martinhal encontram-se vestígios de Cetárias, que eram tanques para salga do peixe.
Já na Praia da Mareta encontram-se indícios de silos e fornos medievais de telha e tijolo utilizados até ao séc. XVI.


Património Natural
A Reserva Biogenética da região de Sagres, localizada junto à praia do Beliche, é uma paisagem caracterizada por Pinheiros bravos e por matagais e está integrada nos principais corredores migratórios da Europa, verificando-se anualmente neste local um fluxo de 100 000 aves aproximadamente.
Quando as aves juvenis fazem a suas primeirasmigrações do norte da Europa para África orientam-se pela linha Oeste da Costa Portuguesa, chegam a Sagres, e deparam-se com um mar imenso, impossível de atravessar. Algumas delas aventuram-se e tentam atravessar o oceano, acabando por morrer nesta travessia por cansaço.
As que permanecem e após o reconhecimento da zona, fazem uma pausa na sua longa viagem, recuperando assim energias. Seguidamente reorientam-se e continuam a sua viagem junto à linha de Costa Sul em direcção ao estrei-to de Gibraltar.
Estes hábitos da avifauna propiciam, em especial nos meses de Maio a Outubro a observação das aves aquáticas e de rapina, nomeadamente a águia cobreira, água calçada, grifos, abutres, entre outras espécies.
As imponentes falésias, que atingem cerca de 100 metros de altura, têm fendas e fissuras no topo dos rochedos ocupadas por várias plantas, nesta paisagem selvagem varrida pelo vento.


Tradições
Uma das tradições ainda vivas, diz respeito aos cantares populares. O Rancho Folclórico de Sagres recolhe e interpreta os sons e as músicas que há gerações são cantadas.
A Lenda de S. Vicente é uma das mais expressivas Tradições de Sagres.
Conta a lenda que passou a chamar-se Cabo de S.Vicente, em honra de mártir franciscano que se recusou renunciar à sua fé cristã.
Morto às mãos do governador romano Dassiano em Valença, Espanha, corria o ano em 304 d. C., este ordenou que o corpo fosse lançado aos animais selvagens. Um grande misterioso corvo apareceu para o defender, evitando a profanação do corpo. Ordenou então o governador que o corpo fosse atirado ao mar, lastrado com uma mó.
Contudo, ao tocar na água, o corpo de S. Vicente não se afundou e foi arrastado pelo mar. Daria à costa, no séc. VIII, na região do cabo, ainda acompanhado por corvos.


As relíquias foram então guardadas na “igreja do corvo”, já referida pelo cronista árabe Edrisi no séc. XII, parte integrante de um convento de monges moçárabes - mouros convertidos ao cristianismo - que mais do que o mar, teriam sido os responsáveis secretos pela preservação das relíquias.
Atestando a tolerância de costumes da época, o cronista relata que frente ao convento existia uma pequena mesquita onde os muçulmanos iam em peregrinação.
Diz ainda a lenda que os corvos se mantinham de vigia a S. Vicente, se empoleiravam no te-lhado do mosteiro, tantos quantos os peregrinos que se aproximavam. Com este sinal podiam os monges preparar comida e abrigo para os forasteiros, desta forma sempre bem recebidos.
A tradição afirma ainda que os corvos acompanharam o corpo de S. Vicente pousados no alto do mastro do navio, quando este foi transferido por ordem do primeiro Rei de Portugal Afonso Henriques, para a Catedral de Lisboa, em 1143, ano da independência.
E é por essa razão que S. Vicente se tornou o santo patrono de Lisboa e os corvos fazem parte do escudo de armas da cidade.

Produtos Locais
Diz o ditado que “onde há redes, há rendas”, o que o artesanato de Sagres confirma. As artesãs realizam trabalhos de cinco agulhas, decorados com cores alegres. As miniaturas de barcos são outra das expressões do artesanato.

Gastronomia
Os frutos do mar são marcantes na gastronomia da zona. Se os perceves são o ex-libris, moluscos, peixes, mariscos “saltam” da rede para a mesa, luzindo de frescura. O sabor a mar dos perceves, rivaliza com o suculento sargo grelhado, com a delicada textura da lagosta da pedra. As saladas de polvo, ou as amêijoas são também boas saborosas propostas.

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