sábado, 21 de abril de 2012

À Descoberta do Algarve Rural - Pelo Vale do Guadiana

Sob o signo do grande rio do Sul vamos de Castro Marim até Afonso Vicente. Lado a lado com o Rio Guadiana, deambulamos por entre salinas, sapais, montes e vales, barragens, ribeiras e ancoradouros. Numa paisagem em que o rio assoma a cada curva, a flora e a fauna reafirmam que se está bem por ali. São as praias fluviais, as artes da pesca, os ensopados de enguias, a apetitosa lampreia. O rio está por perto e sempre amigo. São sinais de labuta simples, a cestaria em cana, as rendas de bilros, as miniaturas em madeira. Seguimos ao encontro de vestígios milenares de ocupação humana, desde o Neolítico à época fenícia, romana ou árabe. Castelos, muralhas, torreões circulares e torres quadrangulares. E o prazer da descoberta da arquitectura rural à entrada de cada povoação... os fornos comunitários, arramadas e palheiros.



Este percurso começa em Castro Marim e sobe até Afonso Vicente sob o signo do Rio Guadiana. O aglomerado urbano de Castro Marim é de grande valor arqueológico com vestígios de ocupação pré-histórica, fenícia, romana, árabe e cristã, tendo sido conhecido por Baesuris. Esta vila medieval é conhecida pela beleza do seu Castelo e da cerca muralhada (1). O miradouro do castelo oferece uma vista extraordinária sobre o Rio Guadiana, a vila, as salinas e a serra. Ainda neste espaço, o Castelo Velho, possívelmente de origem muçulmana, exibe os seus torreões circulares. Na porta principal apresenta um curioso relevo em forma de chave e siglas características dos pedreiros medievais. A próxima visita é à Igreja Matriz de Castro Marim (2). Para lá do património, os produtos locais também fazem as delícias de quem visita Castro Marim, com os doces tradicionais ou as rústicas peças de artesanato, as miniaturas em madeira, a cestaria em cana, capachos em folha de palma, renda de bilros e tapeçaria. Se a fome já apertar, é de provar umas papas de milho ou uma açorda de galinha.
Em frente a Castro Marim podemos apreciar as belezas naturais dos 2.089 hectares da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António (3). É uma área protegida do sotavento algarvio que abrange zonas húmidas de sapal, salinas, esteiros e zonas rurais de xistos, grés vermelho e areias ou arenitos, apresentando grande potencial económico e interesse biológico. 
Saímos pela EN 122 e voltamos à esquerda na saída da Junqueira pela estrada municipal 1132, e a cerca de 3 km encontramos Beliche e a Barragem do Beliche (4). A riqueza natural e paisagística propicia um passeio tranquilo, um piquenique ou permite mesmo assistir à captura de peixe. Voltamos para trás para apanhar a EN 122 e seguir até à encantadora aldeia do Azinhal onde recomendamos a visita à Igreja Matriz Espírito Santo (5). A não perder o Centro Cultural do Azinhal (6). O museu “O Saber das Mulheres”, dá-nos a conhecer o importante papel das mulheres no desenvolvimento de várias actividades, nomeadamente na produção artesanal de rendas de bilros. Contudo, não saímos do Azinhal, sem provar os doces regionais feitos por um grupo de mulheres na Pastelaria “A Prova” (7) ou o queijo e o bom vinho.
Seguimos na EN 122 e 3 km à frente fazemos um desvio em direcção a Almada de Ouro, uma pequena localidade situada na margem do Guadiana. Os passeios a pé são aprazíveis envolvendo-nos na beleza natural e ambiental da zona.
Seguimos até Alcarias, situada no cimo de um monte. É “uma aldeia miradouro” com excelente vista sobre Odeleite. Aproveitamos para fazer pequenas incursões por entre o que são os vestígios da arquitectura rural, casas construídas em pedra, palheiros, arramadas, fornos comunitários e diversos engenhos de água (8). Estão disponíveis e sinalizados no local dois percursos pedestres.

Barragem do Beliche
Seguimos pela estrada 1063 e chegamos à Foz de Odeleite, onde a Ribeira de Odeleite desagua no Rio Guadiana, o que torna a zona envolvente um paraíso natural com lugares recolhidos e pequenos ancoradouros (9). Sugerimos um dos passeios que aqui se organizam, de barco ou a pé, ou um banho e uma boa pescaria. Na Foz de Odeleite ainda é de visitar a queijaria artesanal (10). Dirigimo-nos ao Álamo pela estrada 507 e visitamos a Barragem Romana do Álamo (11), infra-estrutura milenar que indicia a localização de uma abastada villa situada a cerca de 100m a jusante. Quem quiser pode pernoitar num espaço de turismo rural, desfrutar do silêncio e reencontrar-se com a vida rural na sua expressão mais simples e autêntica. 
Mais à frente, em Guerreiros do Rio, visitamos o Museu do Rio (12) onde vamos conhecer a história do rio e das suas gentes, e admirar o trabalho ao vivo de alguns artesãos que ainda se dedicam à manufactura de artes de pesca nas margens do Guadiana. Para quem ainda não experimentou o ensopado de enguias, a lampreia, o muge ou o axigã, pode fazê-lo neste recanto do grande rio do sul. Seguimos pela mesma estrada e chegamos à localidade de Laranjeiras e ao Montinho das Laranjeiras. Aqui foram encontrados vestígios da villa Romana do Montinho das Laranjeiras (13), o que confere grande valor arqueológico e turístico a este sítio. A arquitectura rural serrana também está patente nos fornos comunitários, casas construídas em pedra, palheiros, arramadas e engenhos de água como as noras, poços (14). Seguimos em direcção a Alcoutim e 3 km à frente encontramos o Miradouro do Pontal (15), excelente local para desfrutar da beleza natural ou para merendar. 
Chegamos a Alcoutim, vila encantadora, com uma vista privilegiada para o Rio Guadiana e para a nossa vizinha Espanha, conquistada aos Muçulmanos em 1240. O Castelo de Alcoutim (16), datado do séc. XIV, está classificado como Imóvel de Interesse Público. Aqui, o Núcleo Museológico de Arqueologia (17) apresenta exposições sobre o património arqueológico do concelho, sendo o fio condutor um percurso histórico que se iniciou há mais de 5000 anos. Locais e objectos impregnados de uma memória milenar procuram transmitir culturas e saberes que, num passado mais ou menos longínquo, se cruzam no território que hoje é Alcoutim. No recinto do castelo, a loja de artesanato (18) dá a conhecer os produtos locais. A vila de Alcoutim está repleta de igrejas, pois os Portugueses ao conquistarem as povoações aos Mouros, um dos primeiros actos solenes que realizavam era a sagração das mesquitas em igrejas cristãs. A próxima visita é à Igreja de N. Sra. da Conceição (19) onde recomendamos o roteiro do Núcleo Museológico de Arte Sacra (20): “Quatro séculos de Arte Sacra no concelho de Alcoutim”. Outra igreja a visitar é a Igreja Matriz do Salvador de Alcoutim (21) com o característico cata-vento em forma de galo. A primitiva igreja é um dos melhores exemplares do Primeiro Renascimento no Algarve e a única manifestação no concelho. Seguimos para a Ermida de St.º António (22), construção de alçados lisos, abóbada em berço e telhado de duas águas. 
Podemos pernoitar em Alcoutim na Estalagem do Guadiana ou na Pousada da Juventude e aproveitar para nos deliciarmos com a oferta da gastronomia local. São famosos os queijos, os chouriços e o presunto. Nos pratos principais, temos os ensopados de borrego e cabrito, os cozidos de grão e feijão, a caça, a galinha caseira, os ovos com tomate. Na doçaria destacam-se os nougats, o bolo de amêndoa e de sarrabulho, filhós de forma, canudo e joelho. Para beber temos a aguardente de medronho e figo, os licores e o vinho caseiro. 
A cerca de 1 km de Alcoutim, e atravessando a Ribeira dos Cadavais por uma moderna ponte, num morro sobranceiro ao rio e proporcionando imagens de grande beleza natural, erguem-se as ruínas do Castelo “velho” de Alcoutim (23), povoação muçulmana protegida por muralhas e torres quadrangulares. A não perder a praia fluvial (24) situada na Ribeira dos Cadavais com o seu parque de lazer e o bar, a funcionar nos meses de Verão. Seguindo o caminho de acesso da praia fluvial, chegamos à Barragem de Alcoutim (25), que apresenta uma componente paisagística de grande valor e riqueza ao nível da fauna e da flora. Existem também diversas zonas de caça onde se podem observar diferentes espécies cinegéticas.
Seguindo pela estrada 507 chegamos a Cortes Pereiras, uma localidade situada numa planície onde são visíveis os costumes antigos associados à extracção mineira. Aqui e em Monte Vascão encontramos trabalhos de pintura em cerâmica ou azulejo (26) inspirados na arquitectura e flora locais. Seguimos para Afonso Vicente e a 1,5 km a noroeste visitamos o Menir do Lavajo (27), com 3,14 m de altura e que data do Período Neolítico Final. Nestas voltas pela freguesia iremos apreciar a cultura de um povo expressa no seu artesanato. 
No final deste percurso podemos optar por seguir pela EN 122 e percorrer os 32 kms até Mértola para visitar a vila-museu e os preciosos testemunhos da presença romana e islâmica, ou então fazer o percurso “Pelo Nordeste Interior” que parte de Odeleite.

Castelo de Alcoutim

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