terça-feira, 31 de maio de 2011

Algarvios ilustres - Manuel Teixeira Gomes

Cronista, dramaturgo, crítico de arte, ficcionista e político português, nasceu a 27 de maio de 1860, em Portimão, e morreu a 18 de outubro de 1941, em Bougie, na Argélia. Depois de ter frequentado o Seminário de Coimbra, onde foi companheiro de José Relvas, matriculou-se na Faculdade de Medicina, não chegando, porém, a concluir o curso.


Depois de uma vivência de boémia, entre Coimbra, Lisboa e Porto, durante a qual conviveu com algumas das figuras mais conhecidas da literatura do último quartel de Novecentos, como Sampaio Bruno, Teófilo Braga, Fialho de Almeida, António Patrício, Malheiro Dias e António Nobre, adquirindo uma cultura artística e literária rica e diversificada, regressou a Portimão para se dedicar ao comércio de exportação de frutos secos na empresa que o pai detinha, sendo, então, obrigado a efetuar múltiplas viagens ao estrangeiro, sobretudo pelo Norte de França, Países Baixos e Mediterrâneo. 

A partir de 1895, estabeleceu novos contactos literários e ficou a conhecer, entre outros, Marcelino Mesquita e Gomes Leal. Entretanto, entusiasmado pelos seus amigos, publicou a sua primeira obra O Inventário de junho, em 1899. Obrigado a permancer em Portimão durante mais tempo, devido à avançada idade do pai, dedicou-se, por esta altura, à escrita, tendo publicado Cartas sem Moral Nenhuma e Agosto Azul, ambos os escritos em 1904, Sabrina Freire, em 1905, Desenhos e Anedotas de João de Deus, em 1907, e Gente Singular, em 1909. 

Com a eclosão da revolução republicana, aceitou o cargo de ministro em Londres, encetando um papel interveniente na vida política externa portuguesa - temporariamente suspenso durante a ditadura de Sidónio Pais -, tendo sido responsável pela intervenção de Portugal na Primeira Guerra Mundial, e representou Portugal na Conferência de Versalhes e na Sociedade das Nações. 
Num período particularmente conturbado da vida política e social portuguesa, foi eleito, em 1923, presidente da República, resignando em 1925. Com a instauração da ditadura militar de 1926, encetou um novo período de peregrinação pelo estrangeiro, assumido agora como exílio voluntário. 


Retomou então a escrita, revendo e reeditando as suas primeiras obras e dando à estampa um novo ciclo de volumes de narrativa, memórias e impressões de viagem. Um dos pontos de abordagem da sua obra utilizados com mais recorrência é o de repertoriar continuidades e diferenças entre as obras do início do século com aquelas publicadas depois de quinze anos de silêncio. Como fio condutor entre ambos os momentos encontra-se o recurso frequente a processos evocativos, já que no hiato entre a narração e o acontecimento evocado, joga-se o estranhamento necessário a um desvendar progressivo da ação ou situações insólitas, estratégia que confere à sua escrita características próximas do fantástico. Novelística que se compraz na subversão de lugares-comuns, que se assume como desafio ao sublime e ao romanesco, integrando, por consequência, o grotesco e a ironia como estratégias que permitem o distanciamento e repelir qualquer sentimentalismo, e a expressão inédita de um erotismo plenamente assumido, enquanto adesão incondicional e deslumbrada "à arte e à mulher" (cf. RODRIGUES, Urbano Tavares - Prefácio a Novelas Eróticas, 3.ª edição, Venda Nova, Bertrand, s/d, p. 8). Ao mesmo tempo radicalmente anti-romântica, pela forma como os impulsos idealistas das personagens são continuamente aviltados pelo confronto com a materialidade ou com o ridículo, e anti-naturalista e anticientifista, pela forma caricatural como questiona uma realidade cuja compreensão escapa ao racionalismo, a prosa de Manuel Teixeira Gomes recupera um esteticismo classicista, patente em descrições onde a frase longa, bem cadenciada, sem recusar, para maior propriedade da expressão, o uso de arcaísmos e neologismos, adquire, na evocação imaginária e sensual de lugares, mulheres, amigos que conhecera, uma beleza raras vezes atingida na literatura portuguesa.

Morreu em outubro de 1941, num quarto de hotel da Argélia, país onde viveu os seus últimos dez anos. No entanto, nove anos mais tarde, os seus restos mortais seriam trasladados para Portimão, a pedido da família.

Bibliografia: Inventário de Junho, Lisboa, 1899; Cartas sem Moral Nenhuma, Lisboa, 1903; Agosto Azul, Lisboa, 1904; Sabina Freire, Lisboa, 1905; Anedotas de João de Deus, isboa, 1907; Gente Singular, Lisboa, 1909; Cartas a Columbano, Lisboa, 1932; Novelas Eróticas, Lisboa, 1934; Regressos, Lisboa, 1935;Miscelânea, Lisboa, 1937; Maria Adelaide, Lisboa, 1938; Carnaval Literário (2.ª parte de Miscelânea), Lisboa, 1939; Londres Maravilhosa, Lisboa, 1942; Correspondência I e II, Lisboa, 1960

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