domingo, 3 de julho de 2011

Lendas Algarvias - A Moura do Castelo de Tavira

A noite de S. João é, desde tempos imemoriais, a noite das mouras encantadas. A tradição conta que no castelo de Tavira existe uma moura encantada que todos os anos aparece nessa noite para chorar o seu triste destino. 


Os mais antigos dizem que essa moura é a filha de Aben-Fabila, o governador mouro da cidade que desapareceu quando Tavira foi conquistada pelos cristãos, depois de encantar a sua filha. A intenção do mouro era voltar a reconquistar a cidade e assim resgatar a infeliz filha, mas nunca o conseguiu. 

Existe uma lenda que conta a história de uma grande paixão de um cavaleiro cristão, D. Ramiro, pela moura encantada. Foi precisamente numa noite de S. João que tudo aconteceu. Quando D. Ramiro avistou a moura nas ameias do castelo, impressionou-o tanto a sua extrema beleza como a infelicidade da sua condição. Perdidamente enamorado, resolveu subir ao castelo para a desencantar. 

A subida através dos muros da fortaleza não se revelou tarefa fácil e demorou tanto a subir que, entretanto, amanheceu e assim passou a hora de se poder realizar o desencanto. Diz o povo que a moura, mal rompeu a aurora, entrou em lágrimas para a nuvem que pairava por cima do castelo, enquanto D. Ramiro assistia sem nada poder fazer. A frustração do jovem cavaleiro foi tão grande que este se empenhou com grande fúria nas batalhas contra os Mouros. Conquistou, ao que dizem, um castelo, mas ficou sem moura para amar...


A tradição conta-nos esta lenda, como muitas outras, em verso:
Meia noite além ressoa
Cerca das ribas do mar
Meia noite já é dada
E o povo ainda a folgar.
Em meio de tal folguedo
Todos quedam sem falar
Olhos voltam ao castelo
Para ver, para avistar
A linda moura encantada
Que era triste a suspirar.
- Quem se atreve, ai quem se atreve
Ir ao castelo e trepar
Para vencer o encanto
Que tanto sabe encantar?
- Ninguém há que a tal se atreva
Não há quem em mouros fiar
Quem lá fosse a tais desoras
Para só desencantar
Grande risco assim correra
De não mais de lá voltar.
Ai que linda formosura
Quem a pudera salvar!
O alvor dos seus vestidos
Tem mais brilho que o luar
Doces, tão doces suspiros
Onde ouvi-los suspirar ... ?
Assim um bom cavaleiro
Só se estava a delatar
Em amor lhe ardia o peito
Em desejos seu olhar.
Três horas eram passadas
Neste continuo anceiar
Cavaleiro de armas brancas
Nunca soube arreceiar
Invoca a linda mourinha
Mas não ouve o seu falar
Nada importa a D. Ramiro
Mais que a moura conquistar
Vai subir por muro acima
Sente os pés a resvalar
Ai que era passada a hora
De a poder desencantar! ..
Já lá vinha a estrela d'alva
Com seus brilhos a raiar
No mais alto do castelo
Já mal se via alvejar
A fina branca roupagem
Da linda filha de Agar.
Ao romper do claro dia
Para mais bem se pasmar
Sobre o castelo uma nuvem
Era apenas a pairar
Jurava o povo, jurava
E teimava em afirmar
Que dentro daquela nuvem
Vira a donzela entrar.
D. Ramiro d'enraívado
De não poder-lhe chegar
Dali parte e contra os mouros
Grande briga vai armar,
Por fim ganha um bom castelo
Mas. .. sem moura para amar.

1 comentário:

  1. podia ser mais completo e de forma que se perceba a lenda.Eu percebi mas pode haver pessoas que não percebam

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